vida_icon

Vamos querer gêmeos!

Gemeos

Já perdi a conta de quantos pacientes me perguntaram sobre gestação múltipla; alguns por desejarem a gestação de gêmeos, outros pelo medo de virem a ter três, quatro ou mais bebês de uma só vez. A questão é que a relação reprodução assistida e números de bebês concebidos ainda é pouco clara para muitos.

A cada ciclo natural, a mulher libera um óvulo (raramente dois ou mais). Esse óvulo caminha no interior da trompa para encontrar o espermatozoide. Quando há o encontro e ocorre a fecundação, o óvulo fecundado inicia o processo de divisão celular e vai avançando em direção à cavidade uterina, para implantar-se na camada interna do útero, onde o bebê irá se desenvolver até o momento do parto.

Existem duas maneiras de a gestação gemelar ocorrer. A primeira e mais frequente é quando a mulher libera dois óvulos em um ciclo. Se ambos forem fecundados, cada um originará um embrião. Neste caso, teremos gêmeos dizigóticos, também conhecidos como bivitelinos, ou fraternos. A segunda forma é quando o zigoto, por um processo ainda pouco esclarecido, se divide em duas partes iguais e cada uma origina um bebê. Neste caso, ao contrário dos dizigóticos, os gêmeos serão idênticos e, claro, do mesmo sexo. Num ciclo natural, as chances de acontecer uma gestação trigemelar é bem baixa (um em cada 2.000) e, quadrigemelar, ainda mais raras.

No tratamento de reprodução assistida, para aumentar as chances de gravidez, a mulher recebe medicações que estimulam o ovário. Os óvulos coletados são preparados no laboratório. Cada óvulo recebe um espermatozoide e, no dia seguinte, é verificada a fertilização. Pode acontecer do óvulo, mesmo após injeção do espermatozoide, não ser fertilizado. Neste caso, não haverá zigoto, nem embrião. Isso vai depender de caso, da qualidade dos óvulos e dos espermatozoides. A idade, principalmente na mulher, exerce grande influência, tanto em relação à quantidade como à qualidade dos gametas (óvulos e espermatozoides).

Acredito que agora vocês já estejam entendendo por que é tão difícil saber quantos embriões serão produzidos. Os embriões são selecionados para transferência de dois a cinco dias após a coleta dos óvulos. Ou seja, chegou o dia de serem colocados no útero da futura mamãe. É hora de decidir quais e quantos embriões serão transferidos. Analisamos a qualidade dos embriões, o histórico da paciente, o fator de infertilidade. É uma decisão extremamente delicada, pois é preciso considerar o enorme desejo da maternidade-paternidade e os riscos que uma gestação múltipla pode oferecer à mulher. Desta decisão participam o ginecologista, o profissional do laboratório e o casal.

É preciso ressaltar ainda que embriões transferidos não significam embriões implantados, e nesta etapa nós, profissionais de reprodução assistida, já não participamos mais. Agora é só torcer pelo casal e aguardar o resultado do beta hCG (exame que indica se houve ou não implantação de embrião) e da ultrassonografia. Aí, finalmente, o casal saberá quantos bebês estão a caminho.

Sabemos que para o casal que só pode obter a gestação através do tratamento de reprodução assistida, parece bastante vantajoso buscar a gestação de gêmeos ou trigêmeos. Neste momento, para ele, só existe o peso do enorme desejo de ter um filho. Porém, cabe ao profissional lembrar-lhes que do outro lado da balança estão os riscos da gestação múltipla: hipertensão e diabetes gestacional, descolamento da placenta, pré-maturidade, crescimento fetal restrito, complicações respiratórias e neurológicas para o bebê.

O nascimento de múltiplos bebês é considerado um problema de saúde pública e o tratamento de reprodução medicamente assistida é apontado como grande responsável pelo aumento da incidência deste tipo de gestação. Hoje, existe um enorme esforço por parte dos especialistas da área em conseguir reduzir o índice de gestação múltipla. Nosso desafio é transferir menos embriões, sem reduzir a chance de gestação para o casal.

Como embriologista, alegro-me em dizer que as ferramentas que dispomos para a classificação dos embriões nos têm permitido selecionar com maior precisão o embrião de melhor potencial de implantação. E aqueles que não são selecionados, podem ficar armazenados no laboratório para serem transferidos quando o casal desejar, seja por não ter havido gestação, seja pelo desejo de mais um bebê.

Compartilhe este artigo

Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência em nosso conteúdo.