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Trinta anos depois, como está a jovem que foi o primeiro bebê de proveta do país

Vida 10.10

Anna Paula Caldeira completa nesta terça-feira 30 anos. Seria um aniversário qualquer se ela não fosse o primeiro bebê de proveta do Brasil. Ela diz que não será “nada demais” a comemoração. Mas, pelo lado da ciência, reconhece tratar-se de uma data representativa. A partir deste procedimento, mais de 300 mil bebês nasceram no país pela fertilização in vitro (FIV). No mundo, são cinco milhões desde 1978, quando Louise Joy Brown nasceu no Reino Unido.

— Independente de ser o primeiro bebê de proveta, a verdade é que fazer 30 anos por si só já dá um frio na barriga — brinca Anna Paula, hoje nutricionista. — Tenho consciência do quanto isto é importante para a medicina, o quanto abriu portas. Mas sei que muitos ainda não conseguem ter um filho.

Anna Paula nasceu em São José dos Pinhais (PR), onde vive até hoje. Ela foi a primeira criança nascida por FIV também na América Latina. Sua mãe, a paranaense Ilza Caldeira, realizara uma ligadura de trompas uterinas e, por isso, não podia ter mais filhos. Foi quando procurou o médico Milton Nakamura (falecido em 1997), que testava a técnica, até então, sem sucesso.

— Uma paciente morreu durante o processo, e isso o marcou muito. Mas voltou a ter forças, investiu no sonho e acabou funcionando — lembra Isaac Yadid, diretor médico da Primordia Medicina Reprodutiva, que integrou a equipe de Nakamura.

TÉCNICA AVANÇOU, MAS SEM MILAGRE 

A técnica foi trazida para o Brasil pelo australiano Alan Trounson, responsável pelo nascimento de Zoe Leyland pouco antes da experiência brasileira, em 28 de março do mesmo ano. À época, a gravidez de Ilza foi mantida em sigilo pelas altas chances de insucesso. A foto só foi divulgada cinco dias depois do nascimento da menina saudável.

— O pesquisador trouxe o know how que não tínhamos. Mesmo assim, tudo era feito de maneira rudimentar e sem controle. Comparado à hoje, era um fundo de quintal completo — comenta.

Trinta anos depois, especialistas enumeram os avanços do FIV. Diretor-médico do Vida – Centro de Fertilidade da Rede D’Or, Paulo Gallo explica que a mulher precisava ser internada e tinha o abdome aberto para a retirada de óvulos, mas agora a aspiração deles é feita só com uma agulha por via vaginal e duração de cerca de 10 minutos. Ela recebe doses de hormônios para estimular a ovulação e produzir um número grande de óvulos, aumentando, assim, as chances de fertilização. Óvulos maduros e espermatozoides em tamanho e qualidade adequados são mantidos numa incubadora que simula as condições do corpo feminino. Com um microscópio, o embriologista seleciona as melhores células e induz a fecundação do embrião. Esse procedimento, conhecido como ICSI, beneficiou homens com espermatozoides de má qualidade.

— Além disso, era comum o nascimento de tri ou quadrigêmeos, porque muitos embriões eram implantados. Hoje podemos escolher os melhores e transferir um ou dois por vez — acrescenta Gallo.
Outras inovações são o teste genético dos embriões, que avalia o risco de doenças hereditárias; a gravidez em casais soro-discordantes (portadores de HIV e hepatite, principalmente). E o congelamento de espermatozoides, óvulos e embriões, para a pacientes com câncer, que temem perder a fertilidade, ou os que querem engravidar no futuro.

Mas não há milagre no tratamento, que gira em torno de R$ 15 mil, sem garantias de que vai funcionar. As chances de sucesso caem à medida que a mulher envelhece: aos 30 anos, elas estão em torno dos 60%; aos 43, não passam de 5%.

— A mulher precisa se conscientizar que existe uma finitude na capacidade de produzir óvulos — alertou Yadid.

— São inúmeros os avanços nos últimos anos, mas a idade ainda é o grande empecilho — completa Gallo.

Foto: Rafael Forte

Confira a matéria no site do Jornal O Globo

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