Fertilização in vitro
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Nova técnica de análise genética pode ajudar casais com dificuldades para engravidar, mas é preciso critério

Esta semana foi notícia na BBC (Inglaterra) e em diversos veículos do país uma nova técnica de análise genética que aumentaria os resultados das técnicas de fertilização assistida. Como explicado na matéria – ver matéria do O Globo Online – o aCGH (array comparative genome hybridization) que, no português, seria algo como painel genômico comparativo por hibridização, é uma nova técnica de detecção de problemas genéticos em embriões que permite a análise de todos os cromossomos. Apesar da expectativa que esse tipo de pesquisa gera nos casais que sonham em ter filhos, é preciso lembra que a tecnologia se destina apenas a alguns casos, especialmente porque o aCGH ainda é substancialmente mais caro que a técnica tradicional. Além disso, outros aspectos da pesquisa precisam ser avaliados antes de se assumir que a técnica é uma revolução na área.

Há anos a medicina reprodutiva já vem utilizando o diagnóstico genético do embrião antes da transferência para o útero materno. No entanto, normalmente são testados até no máximo 12 cromossomos. Um dos grupos com mais experiência no mundo nessa técnica, chefiado pelo Dr. Santiago Munné, apresentou, nesse mesmo congresso, a comparação do exame tradicional com 12 cromossomos com o aCGH e a conclusão foi que ambos os exames têm a mesma taxa de erro (6%) e que o aCGH detecta aproximadamente 20% mais embriões anormais. Portanto, é muito importante esclarecer aos leitores que o dobro no aumento das taxas de gravidez pelo aCGH é em comparação às pacientes sem qualquer exame genético do embrião, pois comparando-se com o que já é atualmente feito, as taxas não têm aumento real.

É preciso cuidado também ao interpretar as taxas de sucesso em reprodução humana assistida. Dependendo de como são analisados os resultados, é possível obter diferentes taxas de gravidez. As taxas podem ser levantadas por paciente, por tentativa, por óvulos aspirados, oou por transferência de embriões. Por exemplo, se tomamos um caso bem próximo da realidade da maioria dos laboratório, em que 10 mulheres por volta dos 39 anos fazem tratamento para engravidar e duas delas conseguem a gravidez, obtemos 20% de gestação por paciente. No entanto, é comum que algumas, para obter essa gravidez, tenham repetido o tratamento uma ou duas vezes. Porém, digamos que, nesse grupo de pacientes, seis delas tenham tentado duas vezes e duas por três vezes, daí temos uma taxa de 10% de gravidez por tentativa de óvulo aspirado (duas gestações por 20 aspirações).

Mas pode acontecer também, em um grupo como esse, que nem todas as pacientes tenham óvulos ou algumas não consigam embriões para serem transferidos. Portanto, se a taxa de gravidez for obtida tendo em vista apenas os embriões transferidos e, nesse grupo, isso significar um total de 15 (mesmo se algumas pacientes forem excluídas da contagem), a taxa passa a ser 13,3%. Além disso, é muito frequente que pacientes que não tenham óvulos para coletar sejam tiradas das estatísticas. Então, se nesse grupo de 10, duas tenham falhado na produção de óvulos, e essas forem tiradas da análise, é possível obter uma taxa de 25% de gravidez por paciente.

Por fim, especialmente em casos de mulheres com mais idade que submetem seus embriões a testes genéticos, é bastante comum que boa parte (cerca de 70%) deles tenha que ser descartada, por terem anormalidades. Assim, das 15 transferências de embriões realizadas no exemplo acima, teríamos apenas 4 para transferência, podendo ser considerada uma taxa de gravidez de 50% para essa faixa etária. Provavelmente, com o aCGH teríamos apenas três casos para transferência e a taxa passaria para 66,7%.

Esse exercício matemático é tedioso, porém extremamente importante para compreendermos as pegadinhas da reprodução humana. Quando colocamos os altos custos envolvidos nesses tratamentos, temos ainda mais razão para praticar o nosso senso crítico.

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